sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A volta

Depois de 114 dias, volto pro cotidiano escolar e me realizo de que é nele que me realizo... Descobri que estava com muita saudade da escola e que acredito nela, sim, como auxiliadora nos processos de mudança desencadeados pela vivência real das soluções para os problemas existentes no nosso contexto palpável... Mas devo pedir perdão a algumas pessoas, por reconhecer que fui responsável pela desorganização de suas vidas. Sei que devo pedir perdão aos alunos, que tiveram seu direito à educação ferido, mas saibam que a greve foi nossa última ferramenta, quando todas as outras já haviam falhado... Peço também perdão aos funcionários que trabalharão dobrado, já que certos suportes estruturais da escola serão mantidos durante o período de reposição, mas saibam que a desorganização administrativa do sistema é muito temida pelos nossos chefes, e por isso mesmo se transforma em ferramenta de luta, quando todas as outras já falharam... Peço perdão também a todos que foram muito prejudicados pelo engarrafamento na hora do rush, durante mais de 10 semanas, mas saibam que essa era a nossa mídia direta, quando todas as outras já se haviam calado... Perdão aos funcionários da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, que nada tinham que ver com nosso movimento de ocupação e que tiveram uma semana de desordem geral na casa, mas saibam que quando o executivo e o judiciário se corrompem, nos resta apenas a “casa do povo”, que é onde (ainda) podemos entrar e confiar um pouco mais. Não pedirei perdão ao batalhão de choque da polícia! A estes, eu é que devo perdoá-los por terem atirado em nós com balas de borracha, lançado bombas de efeito i-moral e gás de pimenta nos nossos olhos, mas saibam que até isto acabou se transformando em uma nova arma contra os próprios atiradores, pois a mídia independente e as redes sociais logo davam conta de espalhar a velada verdade para além dos muros da pátria e então recebíamos apoio dos cinco continentes... Devo também perdoar o governador e toda a sua equipe midiático-jurídica que conseguiu jogar contra nós parte da sociedade desconectada das informações reais, mas saibam que isto também se tornou uma arma contra o criminoso, pois durante todo o movimento, foram sendo desveladas as incoerências, não apenas do discurso, como da atuação da a atual gestão pública. Vocês se revelaram mentirosos e manipuladores às nossas custas. Lhes devo meu perdão...

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Carta aberta aos profissionais da educação de Minas Gerais

Colegas profissionais da educação,


É com grande felicidade e entusiasmo que hoje (ontem), após uma assembleia de praticamente 12 horas, 111 dias de greve, uma semana de greve de fome, uma semana de acampamento na Assembléia Legislativa, 24 horas com 40 professores acorrentados no plenário da Assembléia Legislativa, 3 meses de ponto cortado, após termos sido considerados criminosos pelo jurídico e pela mídia, após termos sido substituídos descaradamente, ferindo nosso direito de greve garantido na constituição, após alguns colegas designados terem sido ameaçados de demissão, após o terror e a omissão da mídia, após os xingamentos e olhos tortos da comunidade e até de nossos próprios colegas, após toda a humilhação a que nos subtemos, venho comunicar-lhes que conseguimos o Piso Nacional para TODAS as carreiras da educação, aplicada ao nosso plano de carreira em vigor. Àqueles que participaram e nos ajudaram da forma que lhes era permitido, nossos sinceros agradecimentos. Àqueles que se omitiram, acreditando que não fariam a diferença, nossa indiferença parcial, pois saibam que lutamos também por vocês. Àqueles que torceram contra, devido ao caráter imediatista a que foram acostumados, ou aos diames do ego, nossa humilde pena, acreditando que com esse lindo movimento, talvez pudemos mostrar que, unidos, fazemos sim a diferença. Não queremos agradecimentos, mas reconhecimento. Não queremos pena, mas honestidade. Não queremos esmola, mas justiça! Grande conquista para Minas e para o Brasil, o piso nacional é o início da valorização de nossa carreira com um pouco mais de dignidade. Não fomos intransigentes como nos acusaram por todos os cantos. Recuamos na proporcionalidade. Mas não fomos covardes e então avançamos quando avaliamos que era hora. Esta última assembleia estava tão ou mais cheia que as últimas (cerca de 10000 trabalhadores) e o clima de tensão era tal, que se via a contração das faces e as lágrimas nos olhos. Parecia que todo o batalhão de choque e da polícia e cavalaria estava presente nos arredores. Pois professores são perigosos e criminosos... Mas nós conseguimos arrancar o piso na marra, na maior greve da história da educação! Talvez não fossem mais de cem dias se tivéssemos pelo menos mais dois professores em cada escola. Talvez não tivéssemos que recuar na proporcionalidade se aquele um a mais que achava que não fazia a diferença, tivesse entrado de greve para constatar nos números de que eles tanto gostam... Talvez não tivéssemos sido considerados ilegais se os pais de alunos nos apoiassem, ao invés de nos condenarem. Mas a história não é feita de “talvezes”. Fomos espancados pelo batalhão de choque, enganados pelo legislativo, massacrados pela mídia e pelo jurídico comprado, e ainda assim conseguimos... Grande aprendizado aos que participaram até o fim. Talvez o maior deles tenha sido o aprender que, mesmo quando tudo parece perdido, com um pouco mais de fé e perseverança, se alcançam os objetivos. Volto às aulas na quinta-feira, levando para vocês que optaram pelo vencimento básico, um presente significativo, que valorizará o profissional e, consequentemente, a educação como um todo. Aos que não tiveram opção ou optaram pelo subsídio, levo a experiência de que somos construtores de nossa história, mesmo quando tudo parece estar contra nós...


Um professor em estado de vigília, de volta à escola querida...

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Humilhação ou dignidade?


Humilhação de termos que dormir como indigentes, embaixo de escadaria de prédio público. Dignidade de fazermos isto por aqueles que nos ignoram. Humilhação de termos que apanhar da tropa de choque como se fôssemos terroristas. Dignidade de fazermos isto por aqueles a quem tanto amamos. Humilhação de termos que aguentar mentiras da mídia instituída e comprada. Dignidade de podermos filmar com nossos próprios olhos e divulgar com nossas próprias mãos ao mundo muito mais amplo do que os jornais impressos e a televisão burra. Humilhação de vermos ditador que “elegemos” ir contra seu próprio povo. Dignidade de sabermos que juntos somos mais fortes que ele. Humilhação de haver designados “altamente qualificados” para nos substituir no nosso direito constitucional. Dignidade de não voltarmos atrás sabendo que a estratégia suja é travestida de “preocupação com a qualidade”. Humilhação de sermos chamados de criminosos pela justiça e pela mídia comprada. Dignidade de nos reconhecermos guerreiros da luz, missionários da justiça e diplomatas da paz. Humilhação de sermos ameaçados de perder nosso emprego. Dignidade de seguir em frente, mesmo com um pouco de medo, pois somos de ferro, mas não de aço. Humilhação de ver pai de aluno nos xingar em público. Dignidade de ver pai de aluno com sua filha peitando a tropa de choque para nos defender. Humilhação de haver colegas falando pelas costas, torcendo para que nossa luta fracasse, para que possam nos olhar com sorrisinhos irônicos e saborear o gosto amargo da intriga e da discórdia (oh, pobres de espírito!). Dignidade de não abaixar a cabeça e não nos calar, pois assim ensinou o Mestre. Humilhação de ter que fazer greve de fome em porta de Assembléia Legislativa para retomar negociação. Dignidade de fazermos isto por acreditar que ainda existe humanidade no ser humano. Nosso movimento agora deixou de ser apenas por salário. Agora o que está em jogo é a dignidade social e humana. Eu opto pela dignidade.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Ontem, hoje e amanhã.


Ontem, que conseguimos suspender reunião dos de(puta)dos na parte da manhã. Ontem, que vi articulações autônomas altamente pertinentes dos professores indignados. Ontem, que vi de(puta)do coçando a cabeça de nervosismo. Ontem, que professores em greve de fome mobilizaram a humanidade escondida até dos mais duros. Ontem, que votamos em assembleia de 8000 pessoas, pela continuidade da greve. Ontem, que teve reunião com o líder do governo naquela casa só para ele nos dizer que o governo não negocia com terroristas (ops, professores em greve). Ontem, que os professores ocuparam as saídas das garagens da ALMG e os deputados foram obrigados a retirar o projeto que atropelaria as negociações (até agora inexistentes), e suspender sua votação até próxima terça, quando haverá próxima assembleia de professores.  Ontem, que a tropa de choque chegou e nós nos sentamos a la Mahatma Gandhi, dizendo, “pode bater, que daqui não saio!”. Ontem, que iniciamos um acampamento-vigília permanente nas portas principais da ALMG até a próxima terça. Apenas ontem, para o hoje do amanhã.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Amanhã


Amanhã, que temos a maior greve de nossa história. Amanhã, que o luto e a esperança se casarão em praça pública. Amanhã,que nossos corações estarão despertos quando fazem de tudo para que estejamosdispersos. Amanhã, que por um breve momento, tudo fica suspenso e a expectativa aumenta minutos antes das reuniões, das falas, das votações. Amanhã, em que a mobilização efetiva e consistente se faz necessária. Amanhã, que seremos considerados como criminosos. Amanhã, que nossas forças se unirão no feixe degravetos inquebrantável.


Amanhã, que nossa união fará nossa fé e perseverança crescer ao ponto da realização. Amanhã, que as orações se convergirão paraaquela assembléia. Amanhã, que estaremos filmando e fazendo nossa mídia livre eindependente, mostrando a realidade nua e crua. Amanhã, que a inconfidênciareal acontecerá na Casa do Povo, erroneamente chamada de Assembléia Legislativa. Amanhã, que estaremos presentes com as rédeas em nossas mãos firmes. Amanhã, que assumiremos novamente o preceito da revolução pacífica,porém inteligente e criativa. No amanhã invisível da esperança que se tornará ohoje luminoso da vitória e que, se não fizermos bem feito, ficará para um ontemobscuro da derrota...

Compareça na próxima assembléia - 20/09


Assembleia EstadualPessoal, amanhã tem assembléia dos professores a partir da 13:00. Quem puder, compareça, para nos ajudar a fazer pressão contra o desgoverno da ditadura social camuflada. Precisamos muito da ajuda da sociedade, agora que seremos considerados criminosos, e que nossa greve entra para a história como a maior da categoria. Em caráter de apelo, convoco todos os apoiadores que venham se unir a nós, pelo menos amanhã, pois, com o apoio de todos, sairemos vitoriosos, mas, sem ele, veremos a derrota não apenas da nossa categoria, mas de todas as outras. Se caso formos derrotados, eles agora terão a fórmula mágica para se acabar com as reivindicações grupais. Depois do ocorrido na Praça da Repressão (antiga Praça da Liberdade) na última sexta-feira, tudo pode acontecer. Divulguem e participem, pois a luta não é só dos educadores, mas de toda a sociedade que passa por eles. Contamos com todos vocês.

Greve Professores Minas Gerais e Copa do Mundo, por Cristovam Buarque.

Senador Cristovam Buarque comenta Greve dos Professores em Minas Gerais e copa do mundo, fazendo analogia entre os acontecimentos. Brilhante discurso, que merece ser visto na íntegra, no site do TV SENADO, dia 16-09-2011.

Hoje, apenas hoje...


Hoje, que nossa greve entra para a história como a maior greve da história da educação mineira. Hoje, às vésperas da assembléia e da reunião com o líder do governo. Hoje, que somos considerados criminosos e nos recuperamos do choque da tropa do desgoverno. Hoje, que o relógio da copa já está à vista na Praça da “Liberdade”. Hoje, que fiquei sabendo que uma turma inteira de professores que não aderiram à greve, paralisarão suas atividades para nos apoiar na assembléia de amanhã. Hoje, que vejo as redes sociais apoiando massivamente o movimento dos educadores. Hoje, que não vejo nada na mídia, apenas os mesmos disfarces de “tudo lindo” e “tudo correndo bem”. Hoje, que me recupero da depressão pós-bomba-de-efeito-moral e avisto uma luz no fim do túnel. Hoje, que sei que vai ter designado dando aula em todas as minhas turmas. Hoje, que o governo continua com sua campanha massiva de incriminação dos grevistas na mídia comprada; hoje, que me encontro às vésperas do desvario. Hoje, que suporto o ponto cortado há mais de 100 dias. Hoje, apenas hoje.

sábado, 17 de setembro de 2011

Greve geral?

Reflexão de última hora:
Já que são 19 estados (última notícia de setembro) em greve no Brasil, por que a CNTE não convoca uma greve geral da educação? Todos os filiados teriam que fazer suas assembleias e aí sim, pressionaríamos a nível nacional. Não é esse o momento? Existirá tal momento? Ou essas coisas só acontecem no México, Bolívia e Chile?

Dia de tristeza e felicidade


Dia de muitas notícias e muitos sentimentos. Notícia que vai ter 12000 novas designações de substitutos “altamente qualificados”, com vasta experiência, para prover a educação de qualidade que o governo tanto almeja. Notícia que vai ter designado em todas as minhas turmas a partir de segunda-feira. Triste, porque me sinto invadido no meu direito de greve, garantido na constituição e numa lei federal. Feliz porque os meus alunos não serão tão prejudicados e conseguirão finalizar o ano. Triste por saber que nossa greve foi declarada ilegal por um juiz comprado pelo Faraó, mas feliz porque estamos quites com o governador, pois agora também somos fora-da-lei. Feliz porque o sindicato conseguiu entregar à presidenta Dilma um dossiê da educação em Minas, e ela prometeu intermediar a negociação com o governo. Triste por ver o estado de guerra civil que se instaurou na praça da liberdade (contradição do nome) no evento de inauguração do relógio da copa. Feliz por ver que a greve está forte, mobilizando a opinião pública na mídia independente e nas redes sociais.
Triste porque teve professor espancado, porque teve gás de pimenta em cara de estudante e porque jogaram bombas para nos afastar da solenidade na praça que era só pra elite.
Feliz de ver que ainda conseguimos nos unir e dizer não à repressão instaurada em épocas de ditadura transvestida de democracia. Triste de ver professores se acorrentando em greve de fome e de necessidades básicas na frente de prédios públicos. Feliz por ver que isso sim dá repercussão nacional e mobiliza os sentimentos de humanidade até nos corações mais frios. Feliz de ver que essas correntes conseguiram arrancar na marra, ontem, na Praça da Liberdade, uma negociação com o governo para terça-feira. Triste de ver que os três poderes que deveriam ser independentes são entrelaçados. Feliz de ver que no estado do RS o Ministério Público exigiu do governador o imediato cumprimento da lei federal que instituiu o piso do magistério e de suporte à docência. Triste por ver que muitos colegas de luta desistiram e vão desistir com a ilegalidade. Feliz por ver que novos colegas que não tinham aderido se indignaram e entraram na luta. Muito triste de saber que colegas que não aderiram torcem por nossa derrota para que voltemos para a escola e eles possam dizer com suas bocas cheias: “Não disse? Greve não serve pra nada!”. Feliz de ver que há colegas que, apesar de não aderirem ao movimento, apóiam nossa luta, ajudando a divulgar as informações que a mídia não passa ou conscientizando a comunidade escolar das mentiras compradas do governo e dos meios de comunicação.
Triste por ver o trânsito parado e gente doente tendo que esperar, estudantes chegando atrasado à aula, mas muito feliz de ver muita gente buzinando e apoiando as passeatas, jogando papelzinho dos prédios, acenando e balançando bandeiras brancas e verdes. Triste de ver parte da sociedade que nos considera criminosos, mas feliz de ver pais e alunos que nos apóiam. Triste com a liberação de bilhões de reais para copa, criação de novos cargos no governo, deputados aprovando os super-salários além do teto previsto em lei, cidade administrativa faraônica. Feliz de ver que os movimentos sociais, sindicais e estudantis estão nos apoiando em peso. Enfim, triste e feliz na complexidade da condição humana que é diversa e rica, detentora da história. Não seremos robôs treinados a dizer apenas “sim senhor”, não seremos capachos de ditadores disfarçados. Estamos sendo donos da nossa história, transformadores do cotidiano, guerreiros da paz.  

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Poema do Desterro




Minas Gerais absurda
Campo da ingratidão
Outrora terra dos diamantes
Hoje, no poder que sussurra
Garimpas a segregação.

Minas Gerais bandeirante
Terra em geral aturdida
Pela ganância dos poucos
Que querem ir sempre avante
Na sua riqueza obtida.

Minas Gerais dos loucos
Sítio da hipocrisia
No seu projeto futuro
Permanece no ciclo do ouro
Minguando a riqueza obtida.

Minas Gerais do abrupto
Lugar da ignorância
Quanto mais atenta ao progresso
E a riqueza estende ao astuto
Mais tenho o estômago em ânsia.

Minas gerais do Aécio
Casa de anestesistas sem culpa
Vejo mortos ressuscitados do engenho
Donos das fazendas de café
Gelados senhores da ditadura.

Minas Gerais do empenho
Solo da corrupta sina
Vejo tantos porcos no poder
Que sinto a urgência do desterro
Nos anseios de minha poesia.

Um professor em greve

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Mobilização Greve

Queridos amigos,
Amanhã haverá ato de inauguração de um relógio da copa com Dilma e Anastasia na Pça Liberdade às 18:00. Faremos uma bela recepção com nosso relógio marcando os 101 dias de greve pelo cumprimento de uma lei federal. Conclamamos a toda a sociedade para estarmos presentes em tão importante ato, apoiando os professores. Acabo de voltar de uma assembléia lotada, com linda manifestação. A coisa tá crescendo!!! Hoje teve paralização das obras do Mineirão, em apoio à greve dos professores, acreditam? E talvez amanhã continuará! Hoje, se iniciou uma greve dos correios e eles foram até a nossa assembléia em passeata e apoiaram também nossa greve. Damos o chamado também para a próxima assembléia da educação na terça-feira, com horário a definir, mas provavelmente 13:00. Vamos preparados para uma ocupação da ALMG. A greve endureceu e após professores ficarem acorrentados ao pirulito na pça sete, a coisa tomou tal repercussão que tá bonito de ver! Apoiem nosso movimento, pois tá uma coisa linda demais!!! Então, amanhã, programinha de sexta à noite, aula de cidadania na inauguração do relógio da copa! Tem dinheiro pra Copa, pra polícia, pra cargos eleitoreiros, pra banqueiro, pra estrada, mas pra educação não!
Há-braços!

Um professor em greve.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Carta aberta

Prezada Sociedade,

Após quase 100 dias de greve, acabo de receber a notícia de que minha última e única companhia de greve (em nossa escola) vai voltar a dar aulas nesta semana. Me mandou um e-mail pedindo para eu não condená-lo, pois tem seus motivos financeiros, emotivos e contextuais, e dizendo que tentará não se crucifixar por estar “furando a greve”. Respondi que não se preocupasse, pois também lutou a batalha e teve seu mérito no movimento, mas que mantivesse pelo menos a esperança em nossa luta e transmitisse essa força para os outros que já haviam voltado e, se possível, à comunidade escolar que, embriagada pelo imediatismo, não está nada benta conosco (e com razão!). Estou sozinho na minha escola e em minha cidade, pois nossa escola é a única por aqui. Após 100 dias em greve, com uma lei nos amparando, pedindo apenas a aplicação de uma lei federal de piso de 712 reais e que mantenham a carreira já existente, após receber a vergonhosa notícia de que a justiça federal aprovou super-salários acima do teto para parlamentares federais, venho, em caráter de apelo, à toda a sociedade que ainda acredita na mudança da história por meio da mobilização coletiva e que ainda tem esperança nos movimentos sociais, que venham apoiar nossa luta, pois uma derrota da categoria agora, após mais de 3 meses paralisados, com tão forte adesão e com uma lei nos amparando, seria uma derrota, não apenas de nossa categoria, mas de todos os movimentos sociais. O governo vitorioso se fortaleceria em sua política horrenda contra os fracos e o horizonte dos movimentos sociais se enevoaria com a neblina turva do “poder que tudo pode”. Mas se tudo pode no poder, temos poder em nossas mãos, e hoje na sociedade digital, nos nossos dedos, pois com eles atingimos milhões, e isto está muito difícil de ser controlado pelos modelos arcaicos da ditadura velada que tentam nos impor. Temos ainda o poder de nos juntar para criar, divulgar, reivindicar, protestar, anunciar e denunciar tudo que nos convier e da forma que nos parece justa. Apelo, nesta reta final (Deus me ouça!) que nos apóiem na conversa informal, conferência, palestra, aula, debate, mesa redonda (geralmente quadradas), simpósio, fórum, assembléia, seminário,e também nas redes sociais, grupos de e-mails, cartas abertas, contatos com os magnatas e poderosos conhecidos, políticos, ativistas, artistas, cientistas, comunistas e anarquistas de plantão. Divulguem a realidade de nossa luta, que tem sido semanal, com participação de cinco, dez mil pessoas, tendo que parar Belo Horizonte, sob os xingamentos e aplausos da sociedade surda e da imprensa muda. Todos vocês passaram pelos professores, e a maioria dos que estão vindo ainda passarão. Por pior que eles tenham sido, vocês devem muito a eles. É hora de demonstrar a gratidão por essa classe empobrecida, mas digna, pois ousa se mobilizar em tempos de individualidade e ousa lutar em tempos de estagnação. Apesar de meu coração doer ao pensar que estou sozinho e fraco na minha cidade, me sinto forte e revitalizado quando vejo um abraço de 8000 pessoas no Ministério Público e na Assembléia Legislativa. E meu coração se alegra quando vejo que temos ainda apoiadores como Frei Beto e Leonardo Boff. Apelo neste momento, com mais de 15 estados e incontáveis municípios em greve, à beira de uma greve geral da Educação, a toda a sociedade para se unir no grito: “O professor é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo!”

Gratidão a todos e todas,

Um professor em greve.