sábado, 17 de setembro de 2011

Dia de tristeza e felicidade


Dia de muitas notícias e muitos sentimentos. Notícia que vai ter 12000 novas designações de substitutos “altamente qualificados”, com vasta experiência, para prover a educação de qualidade que o governo tanto almeja. Notícia que vai ter designado em todas as minhas turmas a partir de segunda-feira. Triste, porque me sinto invadido no meu direito de greve, garantido na constituição e numa lei federal. Feliz porque os meus alunos não serão tão prejudicados e conseguirão finalizar o ano. Triste por saber que nossa greve foi declarada ilegal por um juiz comprado pelo Faraó, mas feliz porque estamos quites com o governador, pois agora também somos fora-da-lei. Feliz porque o sindicato conseguiu entregar à presidenta Dilma um dossiê da educação em Minas, e ela prometeu intermediar a negociação com o governo. Triste por ver o estado de guerra civil que se instaurou na praça da liberdade (contradição do nome) no evento de inauguração do relógio da copa. Feliz por ver que a greve está forte, mobilizando a opinião pública na mídia independente e nas redes sociais.
Triste porque teve professor espancado, porque teve gás de pimenta em cara de estudante e porque jogaram bombas para nos afastar da solenidade na praça que era só pra elite.
Feliz de ver que ainda conseguimos nos unir e dizer não à repressão instaurada em épocas de ditadura transvestida de democracia. Triste de ver professores se acorrentando em greve de fome e de necessidades básicas na frente de prédios públicos. Feliz por ver que isso sim dá repercussão nacional e mobiliza os sentimentos de humanidade até nos corações mais frios. Feliz de ver que essas correntes conseguiram arrancar na marra, ontem, na Praça da Liberdade, uma negociação com o governo para terça-feira. Triste de ver que os três poderes que deveriam ser independentes são entrelaçados. Feliz de ver que no estado do RS o Ministério Público exigiu do governador o imediato cumprimento da lei federal que instituiu o piso do magistério e de suporte à docência. Triste por ver que muitos colegas de luta desistiram e vão desistir com a ilegalidade. Feliz por ver que novos colegas que não tinham aderido se indignaram e entraram na luta. Muito triste de saber que colegas que não aderiram torcem por nossa derrota para que voltemos para a escola e eles possam dizer com suas bocas cheias: “Não disse? Greve não serve pra nada!”. Feliz de ver que há colegas que, apesar de não aderirem ao movimento, apóiam nossa luta, ajudando a divulgar as informações que a mídia não passa ou conscientizando a comunidade escolar das mentiras compradas do governo e dos meios de comunicação.
Triste por ver o trânsito parado e gente doente tendo que esperar, estudantes chegando atrasado à aula, mas muito feliz de ver muita gente buzinando e apoiando as passeatas, jogando papelzinho dos prédios, acenando e balançando bandeiras brancas e verdes. Triste de ver parte da sociedade que nos considera criminosos, mas feliz de ver pais e alunos que nos apóiam. Triste com a liberação de bilhões de reais para copa, criação de novos cargos no governo, deputados aprovando os super-salários além do teto previsto em lei, cidade administrativa faraônica. Feliz de ver que os movimentos sociais, sindicais e estudantis estão nos apoiando em peso. Enfim, triste e feliz na complexidade da condição humana que é diversa e rica, detentora da história. Não seremos robôs treinados a dizer apenas “sim senhor”, não seremos capachos de ditadores disfarçados. Estamos sendo donos da nossa história, transformadores do cotidiano, guerreiros da paz.  

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