segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Carta aberta

Prezada Sociedade,

Após quase 100 dias de greve, acabo de receber a notícia de que minha última e única companhia de greve (em nossa escola) vai voltar a dar aulas nesta semana. Me mandou um e-mail pedindo para eu não condená-lo, pois tem seus motivos financeiros, emotivos e contextuais, e dizendo que tentará não se crucifixar por estar “furando a greve”. Respondi que não se preocupasse, pois também lutou a batalha e teve seu mérito no movimento, mas que mantivesse pelo menos a esperança em nossa luta e transmitisse essa força para os outros que já haviam voltado e, se possível, à comunidade escolar que, embriagada pelo imediatismo, não está nada benta conosco (e com razão!). Estou sozinho na minha escola e em minha cidade, pois nossa escola é a única por aqui. Após 100 dias em greve, com uma lei nos amparando, pedindo apenas a aplicação de uma lei federal de piso de 712 reais e que mantenham a carreira já existente, após receber a vergonhosa notícia de que a justiça federal aprovou super-salários acima do teto para parlamentares federais, venho, em caráter de apelo, à toda a sociedade que ainda acredita na mudança da história por meio da mobilização coletiva e que ainda tem esperança nos movimentos sociais, que venham apoiar nossa luta, pois uma derrota da categoria agora, após mais de 3 meses paralisados, com tão forte adesão e com uma lei nos amparando, seria uma derrota, não apenas de nossa categoria, mas de todos os movimentos sociais. O governo vitorioso se fortaleceria em sua política horrenda contra os fracos e o horizonte dos movimentos sociais se enevoaria com a neblina turva do “poder que tudo pode”. Mas se tudo pode no poder, temos poder em nossas mãos, e hoje na sociedade digital, nos nossos dedos, pois com eles atingimos milhões, e isto está muito difícil de ser controlado pelos modelos arcaicos da ditadura velada que tentam nos impor. Temos ainda o poder de nos juntar para criar, divulgar, reivindicar, protestar, anunciar e denunciar tudo que nos convier e da forma que nos parece justa. Apelo, nesta reta final (Deus me ouça!) que nos apóiem na conversa informal, conferência, palestra, aula, debate, mesa redonda (geralmente quadradas), simpósio, fórum, assembléia, seminário,e também nas redes sociais, grupos de e-mails, cartas abertas, contatos com os magnatas e poderosos conhecidos, políticos, ativistas, artistas, cientistas, comunistas e anarquistas de plantão. Divulguem a realidade de nossa luta, que tem sido semanal, com participação de cinco, dez mil pessoas, tendo que parar Belo Horizonte, sob os xingamentos e aplausos da sociedade surda e da imprensa muda. Todos vocês passaram pelos professores, e a maioria dos que estão vindo ainda passarão. Por pior que eles tenham sido, vocês devem muito a eles. É hora de demonstrar a gratidão por essa classe empobrecida, mas digna, pois ousa se mobilizar em tempos de individualidade e ousa lutar em tempos de estagnação. Apesar de meu coração doer ao pensar que estou sozinho e fraco na minha cidade, me sinto forte e revitalizado quando vejo um abraço de 8000 pessoas no Ministério Público e na Assembléia Legislativa. E meu coração se alegra quando vejo que temos ainda apoiadores como Frei Beto e Leonardo Boff. Apelo neste momento, com mais de 15 estados e incontáveis municípios em greve, à beira de uma greve geral da Educação, a toda a sociedade para se unir no grito: “O professor é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo!”

Gratidão a todos e todas,

Um professor em greve.

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