Dia de muitas notícias e muitos
sentimentos. Notícia que vai ter 12000 novas designações de substitutos
“altamente qualificados”, com vasta experiência, para prover a educação de
qualidade que o governo tanto almeja. Notícia que vai ter designado em todas as
minhas turmas a partir de segunda-feira. Triste, porque me sinto invadido no
meu direito de greve, garantido na constituição e numa lei federal. Feliz
porque os meus alunos não serão tão prejudicados e conseguirão finalizar o ano.
Triste por saber que nossa greve foi declarada ilegal por um juiz comprado pelo
Faraó, mas feliz porque estamos quites com o governador, pois agora também
somos fora-da-lei. Feliz porque o sindicato conseguiu entregar à presidenta
Dilma um dossiê da educação em Minas, e ela prometeu intermediar a negociação com o
governo. Triste por ver o estado de guerra civil que se instaurou na praça da
liberdade (contradição do nome) no evento de inauguração do relógio da copa.
Feliz por ver que a greve está forte, mobilizando a opinião pública na mídia
independente e nas redes sociais.
Triste porque teve professor espancado,
porque teve gás de pimenta em cara de estudante e porque jogaram bombas para
nos afastar da solenidade na praça que era só pra elite.
Feliz de ver que ainda
conseguimos nos unir e dizer não à repressão instaurada em épocas de ditadura
transvestida de democracia. Triste de ver professores se acorrentando em greve
de fome e de necessidades básicas na frente de prédios públicos. Feliz por ver
que isso sim dá repercussão nacional e mobiliza os sentimentos de humanidade
até nos corações mais frios. Feliz de ver que essas correntes conseguiram
arrancar na marra, ontem, na Praça da Liberdade, uma negociação com o governo
para terça-feira. Triste de ver que os três poderes que deveriam ser
independentes são entrelaçados. Feliz de ver que no estado do RS o Ministério
Público exigiu do governador o imediato cumprimento da lei federal que
instituiu o piso do magistério e de suporte à docência. Triste por ver que
muitos colegas de luta desistiram e vão desistir com a ilegalidade. Feliz por ver que novos colegas que não
tinham aderido se indignaram e entraram na luta. Muito triste de saber que
colegas que não aderiram torcem por nossa derrota para que voltemos para a
escola e eles possam dizer com suas bocas cheias: “Não disse? Greve não serve
pra nada!”. Feliz de ver que há colegas que, apesar de não aderirem ao
movimento, apóiam nossa luta, ajudando a divulgar as informações que a mídia
não passa ou conscientizando a comunidade escolar das mentiras compradas do
governo e dos meios de comunicação.
Triste por ver o trânsito parado e gente
doente tendo que esperar, estudantes chegando atrasado à aula, mas muito feliz
de ver muita gente buzinando e apoiando as passeatas, jogando papelzinho dos
prédios, acenando e balançando bandeiras brancas e verdes. Triste de ver parte
da sociedade que nos considera criminosos, mas feliz de ver pais e alunos que
nos apóiam. Triste com a liberação de bilhões de reais para copa, criação de
novos cargos no governo, deputados aprovando os super-salários além do teto
previsto em lei, cidade administrativa faraônica. Feliz de ver que os
movimentos sociais, sindicais e estudantis estão nos apoiando em peso. Enfim , triste e
feliz na complexidade da condição humana que é diversa e rica, detentora da
história. Não seremos robôs treinados a dizer apenas “sim senhor”, não seremos
capachos de ditadores disfarçados. Estamos sendo donos da nossa história,
transformadores do cotidiano, guerreiros da paz.
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