Não sei não, mas acho que todos estamos sentindo algo
diferente com essas últimas manifestações no Brasil e no mundo. Eu, professor,
estou sentindo isto. Não sei por que, mas quando vejo essa galera nas ruas, e o
movimento crescendo, não apenas por São Paulo, mas por todo o Brasil e mundo,
sinto que algo sem fronteiras está acontecendo. Algo que me traz à memória, a
Marcha dos Cem Mil, a queda do muro de Berlin, a Diretas já e os cara-pintadas.
Lembro-me bem, eu, em BH, com 10 anos de idade, quando o Collor pediu à
população que o apoiava, que colocasse panos com as cores da bandeira nas
janelas e a cidade amanheceu de luto. Não sabia o que aquilo significava, mas
algo surgiu em mim naquele dia. Só depois fui saber que isto ocorreu, porque a
VEJA lançou um editorial pedindo o impeachment. Naquela época não havia blogs
nem facebook. Algo está acontecendo, não sei bem o quê, mas está. Estamos todos
já fartos do mesmo blá-blá-blá na política, nas escolas, na mídia. A mesma
reprodução fantochiada de um modelo de pensar que vejo em decadência. Vejo um
grito contido de BASTA, nas gargantas treinadas a só dizer SIM, pois assim
poderão ser consumidores exemplares. Vejo uma “classe-mídia” acordando. Vejo
uma contaminação geral, que agora, parece extrapolar o controle midiático
conservador e calar a boca de quem quer nos calar. Pode ser que daqui uns dias,
tudo retorne ao “normal”, ou “normose”, como já dizia um pensador. Retornaremos
desse frenesi ao cotidiano massacrante, mas acredito que, agora, mudados.
Vivenciamos um rito de passagem no Brasil. Continuaremos enfurnados em nossas
telas, dando nossas aulas e cumprindo nossos prazos, mas com uma semente nova
no coração que já estava seco e cansado de não fazer nada. E essa nova força
que descobrimos nos últimos dias foi ensinada pelos jovens, que tanto denunciamos
como alienados, mas agora eles são nossos maiores professores. Nós,
professores, devemos todos assistir a essas aulas de cidadania, e fazer nosso
para-casa, denunciando os abusos, as transgressões, as violências daqueles que,
contraditoriamente, nos acusam de abusivos, transgressores e violentos. Não
peço que participemos das manifestações e greves, porque sei que a rua é demais
para nós, professores envelhecidos, acostumados a sentir medo do novo. Aos nossos mestres, essa juventude linda que
acorda, após longo sono renovador das energias, meu imenso carinho e minha
eterna gratidão.
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